O CD nasceu da vontade do compositor registrar algumas das canções que vem compondo ao longo dos últimos anos. A diversidade rítmica que percorre ao longo das doze faixas, evidencia um trabalho em prol da canção. O importante é deixar que a canção surja naturalmente, seja baião, samba, frevo, bossa ou até mesmo uma balada pop.

O mote do trabalho é, sem dúvida a primeira faixa, o samba “A Outra Rita”, composta em homenagem a outro samba “A Rita”, de Chico Buarque. A produção dessa faixa, em conjunto com o DJ Roger Moore inspirou o processo de criação das outras, a partir da utilização das ferramentas eletrônicas ao lado do violão e da voz do compositor. O trabalho de adequar a canção pura a um formato instrumental construído por softwares musicais é que talvez traga a unidade à obra, a despeito de sua diversidade sonora.

Neste trabalho o compositor reuniu peças antigas como a faixa título “Travessia de Cegos”, composta em 1993, a outras bem recentes, como “Grão da Paixão”, composta já na fase de gravação do CD, ambas em parceria com o poeta e letrista Anízio Vianna, com quem já havia lançado em 2002 o CD Óvni Estrela.

Em algumas canções o músico Roger Bastos aventura-se a compor também as letras, como no caso do samba já citado “ A Outra Rita”, ou nas new bossas “Frenética” e “Duvideodó”, mas ressalta que gosta mesmo é das parcerias, do desafio de compartilhar, como em “When I Think of You”, uma espécie de bossa-jazz em parceria com o professor e letrista Alan Valente. 

Caso curioso é a música “Maracujá”, criada a partir de uma letra de Gilberto Gil. No livro “Todas as Letras”, organizado por Carlos Rennó, o compositor baiano escreve sobre essa canção, cuja música havia sido perdida, restando apenas a letra meio concretista:

                                                                 Mara
Maracu
  Maracujá
            Maracujá agora
                            Maracujá a qualquer hora
                                Maracujá em qualquer lugar

Então, meio que de brincadeira, Roger resolveu “vestir” a letra com uma nova música, e gostou tanto do resultado que acabou gravando, achou que ficou ironicamente muito parecida com as coisas do próprio Gil. No You Tube é possível vê-lo cantando a canção.
O CD fecha com um samba de Noel Rosa “Coisas Nossas”, e outra vez a ironia entra em campo, quando o compositor atualiza, com versos novos, a crítica social feita pelo gênio de Vila Isabel. Por fim, o autor diz: sou essencialmente compositor, canto por necessidade de mostrar o trabalho produzido, adoraria ouvir minhas canções na voz de muitas cantoras que estão por aí.